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Breve Historial

A história de Requeixo começa, certamente, há milhares de anos. Quantos ao certo, não sabemos mas serão, com certeza, mais de três mil.

Nesse tempo, os povos que habitavam o vale do Vouga construíam os seus monumentos de uma forma muito especial a que hoje chamamos mâmoas, mamoas ou meimoas. Muitas delas ainda hoje se podem ver e são uma verdadeira certidão da estadia desses povos nesta região. Eram povos caçadores e colectores: caçavam os animais bravios da floresta, apanhavam frutos silvestres e no mar apanhavam moluscos (nessa altura, o mar banhava Requeixo). Algumas estão mesmo na origem da designação moderna de algumas povoações: Mamodeiro (provavelmente) e Mamarrosa (de mâmoa rasa).

Também na área da antiga freguesia de Requeixo se encontrou uma mâmoa, que fica em Mamodeiro, junto ao actual limite com Requeixo.

Em certa altura estes povos desapareceram ou foram absorvidos por outros. Porquê, não sabemos, mas sabemos deixaram de fazer mâmoas.

Depois do seu desaparecimento, outros povos terão passado por estas paragens – fenícios, gregos e cartagineses. Mas não deixaram rasto.

Em época que não se pode precisar chegaram finalmente ao extremo peninsular, numa área que abrange a Galiza e Portugal, de Norte a Sul e o ocidente de Castela, os povos que, oriundos da Ásia, estavam a povoar grande parte da Europa. Eram os celtas. Mas não vieram todos de uma vez. Vieram por vagas. Os últimos a chegar ocuparam o noroeste peninsular, correspondente mais ou menos ao Norte de Portugal e à Galiza. Serão estes povos que terão fundado, entre outras povoações, Requeixo e Óis.

Já estes povos por cá estavam e viviam há muito tempo quando chegaram os romanos. Não foi fácil aos romanos submeter os povos do noroeste peninsular. Durante séculos, foram obrigados a estacionar uma legião militar em Leão/Léon (daí o nome), para manter o seu domínio.

Da vaga de invasores seguintes - alanos, suevos, vândalos e visigodos – nenhum deixou vestígios visíveis na área antiga da nossa freguesia.

Os invasores seguintes foram os árabes, que por aqui estiveram perto de dois séculos e deixaram um rico legado, sobretudo no domínio das técnicas agrícolas e da construção. Mas vestígios concretos e específicos não deixaram, ou pelo menos, não chegaram até nós.

 É durante a Reconquista Cristã que verdadeiramente Requeixo entra na História; quer dizer, é após a reconquista destas terras aos mouros, levada a cabo pelos reis de Leão, que aparecem as primeiras referências a Requeixo.

Lá para o século IX grande parte da zona do Baixo Vouga pertencia aos grandes “Senhores de Marnel”. Estes senhores de Marnel eram de origem moçárabe (moçárabe: cristão que, sob o domínio dos mouros, mantinha a fé cristã). Descendentes desta família são duas famosas senhoras, que viveram no século XI: as primas coirmãs D. Châmoa (ou Flâmula) Onorigues e D. Teresa Fernandes, “senhoras de Requeixo”.

D. Teresa Fernandes casou com Mem Viegas “de Sousa”. Esta família era também de origem moçárabe e foi através deste casamento que a opulenta casa “de Sousa” entrou na herança de Requeixo e terras vizinhas.

Entretanto e certamente devido a doações, que eram então muito frequentes, no século XIV Requeixo e vizinhas tinham passado para a Ordem do Hospital.

O célebre conde D. Pedro – cuja celebridade vem do facto de ser o autor do Livro das Linhagens, o primeiro do género escrito em Portugal – filho bastardo de D. Dinis, tinha casado com D. Branca Peres “de Sousa”, e fez, com a Ordem do Hospital, a troca de Montoito (Alentejo) pelos “herdamentos de Requeixo, etc”.

O conde D. Pedro gostava muito destes lugares e passou muito tempo por aqui, na sua “quintã” e paço de Brunhido acompanhado, já durante a sua viuvez, por D. Teresa Anes “de Toledo”.

O conde D. Pedro morreu sem descendência (o filho que tivera de D. Branca morreu novo) e as terras de Requeixo e vizinhas passaram para a Coroa.

Mais tarde, o rei D. Pedro I fez mercê das suas honras e coutos ao novo conde D. João Afonso de Barcelos. O rei D. Fernando, por sua vez, deu ao conde D. João Afonso “toda a parte e quinhão que havia na aldeia de Óis da Ribeira e na aldeia do Requeixo de Riba do Vouga”.

O Conde de Barcelos foi mais tarde feito duque de Bragança e  Requeixo irá permanecer na Casa de Bragança até 1465.

Em 1465, o então Duque de Bragança, D. Fernando, e sua mulher, D. Joana de Castro, doaram ao seu terceiro filho D. Afonso (conde de Faro e, mais tarde, conde de Odemira) a alcaidaria-mor, cadeia e rendas que tinham em Estremoz, bem como as terras de Riba Vouga.

Como consequência da descoberta da conjura contra D. João II em que teria estado envolvida a família do Duque de Bragança, o conde de Faro fugiu para Castela, tendo os seus bens revertido para a coroa.

Em 1485, D. João II, já na posse das terras de Riba Vouga – então Almoxarifado de Eixo – fez mercê das mesmas a sua irmã, a Princesa Santa Joana, mas por morte desta os bens voltaram à coroa.

Em 1494, as terras do Almoxarifado de Eixo são doadas a D. Diogo Lopes de Sousa, 1º “Senhor de Requeixo”. As terras de Requeixo e vizinhas regressam então à posse da Casa de Sousa, à qual durante séculos tinham pertencido.

Após a morte de D. João II, regressam a Portugal aqueles que, para escaparem à justiça régia, se tinham refugiado em Castela e que vão contestar junto do novo rei (D. Manuel I) a posse das terras de Riba Vouga por parte dos Senhores de Requeixo. O problema arrasta-se na Justiça até que, finalmente, por decisão régia, as terras voltam à família dos condes de Odemira.

D. Sancho de Noronha, VII conde de Odemira, faleceu sem descendentes em 1641; por isso, e de acordo com a Lei Mental, as terras do Almoxarifado de Eixo voltaram à posse da Coroa.

 Em 1645 D. João IV instituiu uma nova categoria de senhorios, as casas da família real – Bragança, Infantado e Rainha – com administração autónoma. A Casa de Bragança ficou a ser a titular do Almoxarifado e Julgado de Eixo que, além deste, era constituído pelas Vilas e Concelhos de Requeixo, Óis da Ribeira, Paus e Vilarinho do Bairro.

Por cerca de dois séculos e até à sua extinção, o almoxarifado de Eixo pertencerá à Casa de Bragança.

Pela lei de 13 de Agosto de 1832 foram abolidos os foros. Os agricultores viram-se finalmente livres das imposições feudais, já então consideradas absurdas e lesivas da economia local. No entanto a “Sereníssima Casa de Bragança” não se deu por vencida e em 1851 intentou contra os povos do Almoxarifado uma acção a reclamar os foros, rações e laudémios (uma espécie de imposto sobre a venda de propriedades) desde 1833. Nas várias povoações do almoxarifado e em outras que pertenceram à Casa de Bragança apareceram avisos a convidarem os foreiros a pagarem voluntariamente as prestações em dívida.

Em 4 de Dezembro de 1864, centenas de pessoas de Eixo, Oliveirinha, Requeixo, Fermentelos, Alquerubim, Óis da Ribeira e Espinhel reuniram-se no sítio da Ponte da Rata, em Eirol, para combinarem os meios de defesa comum na causa que opunha esses povos à Sereníssima Casa de Bragança, em questões de tributos, rendas e foros

Não sabemos qual o resultado da acção, mas julgamos ter sido considerada improcedente.

Aqui termina a história dos senhorios destas terras. Mas é preciso fazer um reparo: estes senhores não eram os proprietários das terras. Eram detentores de alguns direitos (foros, rações, laudémios, portagens, etc.) sobre as terras. E não eram senhores únicos. Também as igrejas, os mosteiros e ordens religiosas detinham direitos sobre algumas parcelas do território, normalmente casais. Por exemplo, no século XIX, a Universidade de Coimbra era detentora de um prazo na aldeia de Requeixo.

 

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